AÇÕES

*BENJAMIN STEINBRUCH


Não se pode mais aceitar a continuidade das mortes nas estradas e nas áreas de risco em encostas nas cidades. TÃO GRANDE quanto a tragédia que atingiu o Rio de Janeiro por conta das chuvas é a que se verifica nas estradas brasileiras.

Só no feriado da Páscoa, 114 pessoas morreram vitimadas por acidentes de trânsito.

As mortes cresceram 34% nas rodovias federais e 38% nas estaduais paulistas quando comparadas com as do mesmo feriado do ano passado.

As vidas perdidas, porém, não podem ser tratadas apenas como números. É preciso olhar para esse problema com olhos humanitários, para as centenas de famílias que perdem pessoas queridas em acidentes rodoviários espalhados pelo país, sem que isso provoque nenhuma comoção pública.

Em 2009, escrevi aqui um artigo no qual contava a experiência da China, onde fui surpreendido pela inexistência de motocicletas no trânsito caótico de Pequim e em outras grandes cidades -apenas bicicletas mecânicas e elétricas podem circular em metrópoles chinesas, em faixas exclusivas.

Quando publiquei esse artigo, no fim ano passado, um leitor enviou-me um e-mail irado, acusando-me de pretender acabar com inúmeros empregos por meio da proibição da circulação dos motoqueiros em São Paulo. Evidentemente, não era esse o objetivo. Nem tinha a pretensão de tentar reproduzir aqui a experiência chinesa.

A intenção era alertar para o fato de que a circulação de motocicletas no trânsito das grandes cidades, tanto na China como no Brasil, é muito perigosa. Então, seria oportuno tentar organizá-la melhor, para poupar vidas.

Vejo com satisfação que algumas medidas começam a ser tomadas em São Paulo.

Uma segunda faixa exclusiva de motos está sendo criada na cidade, na rua Vergueiro, com o objetivo de retirar as motocicletas da perigosa avenida 23 de Maio.

Também se pretende proibir a circulação das motos na pista central da marginal do rio Tietê, onde graves acidentes com mortes são frequentes. Mesmo que imperfeitas, essas iniciativas mostram o interesse da autoridade pública em trabalhar para proteger vidas.

Assim como o problema das motocicletas nas cidades, as chacinas dos feriados nas estradas exigem trabalho preventivo. São conhecidas as causas dos acidentes.

Além da imprudência dos motoristas, que muitas vezes dirigem embriagados, as rodovias, principalmente as que não funcionam sob o regime de concessão, são estreitas, antigas e malconservadas. Em algumas curvas, acidentes se repetem diariamente sem que as autoridades tomem nenhuma providência além de uma singela placa de "curva perigosa".

Se não há recursos suficientes para modernizar as estradas, muita coisa pode ser feita pelo menos em matéria de engenharia de sinalização para reduzir os riscos de acidentes.

Simplesmente limitar a velocidade não é solução.

Aliás, em rodovias como as autobans alemãs, apesar da altíssima velocidade, de até 180 quilômetros por hora, o índice de acidentes é muito baixo. Um caminhão subindo uma serra a 20 quilômetros por hora certamente é tão perigoso quanto um carro a 110 quilômetros por hora em uma reta.

Não se pode aceitar passivamente a continuidade dessas mortes nas estradas, assim como é inadmissível o descaso com a ocupação de áreas de risco em encostas nas cidades, onde obras de contenção que seriam urgentes são postergadas em benefício de outras prioridades. É preciso agir preventivamente, para que tragédias previsíveis, tanto nas cidades como nas estradas, não continuem a surpreender e a chocar a sociedade.

Empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

Fonte: http://abetran.org.brFolha de S. Paulo – 13/04/2010 - Artigo

retirada da http://www.ong-alerta.blogspot.com/